terça-feira, 22 de junho de 2010

Moçambicanidade

Moçambicanidade

Ser estrangeira num outro Pais è uma emoção continua: os olhos vejam, as orelhas ouçam, o nariz sente, as mãos tocam, os pés caminham, o corpo vive, e a boca saboreia...novas formas, novos sons, novos cheiros, novas superfícies, novos caminhos, novas emoções, novos sabores.
A anima descobre novas animas.

Os olhos vejam chapas, mulheres formosas, rabos africanos, homens magros, olhos expressivos, ruas com buracos grandes, o sol nascer, crianças lindas, a pobreza, a riqueza da cultura, coqueiros, praias, o mar, as cores fortes, pessoas que falam animadas, capulanas, bichas que não são respeitadas, policia corrupta, baldes na cabeça, caranguejos, terra vermelha, crianças nas capulanas nas costas das mães, palhotas, prédios, carros, bicicletas, machibombos, corpos que se tocam na indiferença, céu azul, corpos que dançam

As orelhas ouçam EPA, ISH, IOUE, PA, OVLA, AUENA, BOM DIA, BEM, OBRIGADO, SIM, TA CORRER, EMPURRANDO, CORRERIA, BOM, LICILE, português, changane, ndau, bitonga, sena, ingles, DAQUI A NADA, TOU A VIR, JA VENHO, DIZ LA, DAQUI A 7 MINUTOS, DAQUI A 3 MINUTOS, ATE JA, ATE MUNZUCU, ATE MANHA, FAZER O QUE, PAPAE, MAE, DESCULPE LA, VAMOS EM BORA, TOU A PEDIR, TOU A BAZAR, TOU A FERRAR, JA CONSEGUISTE, SELA, AHHH VOCE, QUERE O QUE, LOBOLO, ENGRAVIDEI, CURANDEIRO, JA VOU, KANIMAMBO. O pau que pila, a marrabenta,

O nariz sente o cheiro do lixo, da xixi, do suor no chapa, do sabão, de matapa, de amendoim cuzito, de maçaroca, da poluição, de pão fresco, de cerveja, de caril, do sexo apena consumado, das mexas, dos rastas, da xima, do frango assado, das batatas fritas, das bajias de manha, de roupa lavada com Homo, de roupa usada que vem de Europa, de peixe, da terra, do mar, de cidade, do mato, da cera no chão, de capim, da madeira, do batuque

As mãos tocam o pau preto, o sândalo, a pele obscura, a pele mais clara, lábios grandes, chapas, mãos, papaia, mangas, cocos, areia, capulanas, batuque, meticais, maças, 5 meticais, corpos, sensualidade, sexualidade, cabelos, arte, o vento, o calor,

Os pes caminham ruas, praças, vias, cidades, matos, jardins, florestas, montes, chapas, praias, dias, noites, tardes, casas, escritórios, igrejas, avenidas, a baixa da cidade, MAPUTO, BEIRA, INHAMBANE, MAXIXE, TETE, PEMBA, CHIMOIO, NAMPULA, QUELIMANE, ILHA DE IBO, ILHA DE MOÇAMBIQUE, poeira,

O corpo vive um sorriso, o amor, o chorar, encontros, despedidas, chegadas, linchamentos, festas, danças, funerais, conversas, BATER UM PAPO, TOMAR UM COPO, não conseguir fazer uma coisa no tempo pensado, o atraco, a emoção das palavras de uma canção, do por do sol, dum peso na cabeça, de uma criança a pedir na rua, de uma criança que vende amendoim na rua à 10 anos até 23 horas de noite, de prostitutas, a não fidelidade de um homem, as mentiras, a felicidade, a corrupção, a cadeia, a religião, a moçambicanidade, o bater dum homem sobre uma mulher, a violência, os abraços, as noites, os dias, as tardes, tempo sentado na esteira, corpos borrachos nas ruas, gordura das mulheres, a magreza dum homem, o brincar de crianças nas ruas,

A boca saboreia uma maçaroca as 18 horas, amendoim depois algumas cervejas, um beijo, lábios carnosos, agua com Certeza, chá, matapa, arroz com caril, um frango assado à zambeziana, castanhas, pão fresco e bajia, piri-piri, carne, peixe, prego no pão, batatas, mangas, papaias, salada com olho e vinagre, ainda um beijo, laranjas, mentas, açúcar, ovos, bolachas, carapau, areia, quiabo, coca cola, fanta, fanta laranja, fanta uva, mandioca, Laurentina, 2M, Sura, coco, ainda um beijo, xima, camarões,
A anima descobre a felicidade moçambicana, o perder com facilidade a própria criança, ver a morte não com crueldade, a vida que continua, a luta que continua, a importância da agua, do calor, da natureza, do cumprimentar e do despedir, de um OLA e de um TCHAO, de um sorriso e de um abraço, dos encontros, da diferencia em se um BRANCO o um NEGRO, da igualdade em ser UM SER HUMANO,

Ser uma estrangeira em Moçambique é descobrir a moçambicanidade.

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